luís soares barbosa
Figurações de Frida Kahlo - um livro
Em 2024 foi publicado o livro Atrás da cortina da loucure: Figurações de Frida Kahlo com mais de duzentas “figurações” de Frida Kahlo e do seu universo, da autoria de Agostinho Santos e 23 poemas inéditos de António Cândido Franco, Carina Anselmo Valente, Daniel Maia-Pinto Rodrigues, Eduardo Quina, Francisco Vinhas, Helga Moreira, Ilda Figueiredo, Jaime Rocha, José Manuel Teixeira da Silva, Jorge Teixeira, José Luís Peixoto, José Rui Teixeira, Luís Soares Barbosa, Nuno Higino, Paulo José Miranda, Raquel Patriarca, Ricardo Fonseca Mota, Rosa Alice Branco, Rui Almeida, Sandra Costa, Sérgio Almeida, Tiago Araújo e Valter Hugo Mãe.


(la novia se espanta de ver la vida aberta, 1943)


dispõe os dedos em redor
crava-os na pele como um pensamento,
uma coruja o articula sobre papaia em voo,
refracta-o como pode a morte
atenta.
dos pássaros, porém, retém o desperdício,
em rigor, o luxo:
tudo o que colhe em rizoma o pensa
até que os dedos ouçam.

não são ecos, eixos, gradações,
contra a corrente, certa rua caminha
por seu corpo aberto.
os olhos pressentem: são safiras cegas
de onde a cor não volta.
dói-lhe o labor de cada pigmento
domesticável ainda, mas já excesso
se à noite compete
o julgamento.

quando o parto soçobra, a casa geme,
nascem camélias
de suas mãos pregadas e imóveis.

a meio vai o século, nunca o evita,
a história devora-a como a outros retalha
a iníqua contabilidade dos afectos.

nada demora em si.
afaga-a da luz a desmesura.

Tertúlia no Ur-GENTE, Bissau, 2024
Dia 29 de Novembro, tertúlia em torno dos meus livros no Ur-GENTE, Centro de Artes Cénicas Transdisciplinar de Bissau, em Bissau. Um encontro inesquecível.

Nos 50 anos de Abril, fascismo nunca mais
Video que o INESC TEC publicou, baseado num poema meu para os 50 anos do 25 de Abril de cada pergunta a liberdade faz começo.
Novembro, 2024
Entrevista na Radio Sol Mansi (Guiné-Bissau) com o meu amigo Emiliano Silva.
Janeiro, 2024
Entrevista na RUM no programa Livros com RUM, com António Ferreira (video).
Outubro, 2023
Publicado a poesia vende pouco pela Officium Lectionis, com apresentação de Ondjaki.

Apresentações: Santo Tirso(18 Nov 2023) e Braga (BLCS, 21 Mar 2024).

Gaza: Há momentos em que o poema é mudo e a palavra inútil.
Outubro 29, 2023 Apontamento sobre a necessidade de ver claro, publicado no Sete Margens.

Janeiro 18, 2024 Gato por lebre, publicado no Sete Margens.

Julho 2, 2022
Porto, Casa Comum. Conversa animada pelo José Rui Teixeira sobre o livro A eterna qualquer coisa do poeta espanhol Martín López-Vega e o meu próprio longos dias breve o medo.
Março 20, 2022
Sessão final do "Poesia Livre", em Santo Tirso, com Ondjaki (moderação de Eusébio André Machado).
A sessão decorreu no final de uma residência poética oferecida pela Câmara Municipal de Santo Tirso Santo Tirso, entre 16 e 20 de Março.
Janeiro 13, 2022
Início da celebração do Centenário de Maria Ondina Braga,
no Museu Nogueira da Silva.

Declaração da família sobre a data do seu nascimento (ler).

Ligação para a edição na INCM das suas obras completas.

Exposição do Centenário na Universidade do Minho (video).

Documentário O que vêem os anjos, uma ideia original de José Miguel Braga, em que também participei.
Abril 4, 2021

(quase páscoa)


Dois poemas meus lidos pelo António Durães, numa publicação do 7Margens.
Setembro 16, 2018

(para o nome da clara)

e de súbito, alado, seu nome erguia,
enquanto a noite em nós refluía,
o indomável fulgor da claridade

Junho

houvesse nesta tarde um olhar intacto
onde ecoasse como então a tua voz:

era uma vez uma menina que vivia num palácio com vasos do japão


e recomeçasse em mim o lugar exacto
em que o medo era simples
(havia ainda azul)
e próxima ficava a tua mão

depois
inúmeras lágrimas cruzaram
a firme vontade que transportas
e secretas manhãs aqui voltaram
como se nunca tivessem sido mortas

cada desilusão foi uma força
cada percalço um recomeço
e não houve noites que longas soçobrassem
nem faltou o lume onde me aqueço
quando o pavor retoma este lugar
entre as infindáveis dissoluções dos dias
tua voz ainda enfrenta o tempo

uma menina, sabes, que brincava com a chuva nos corredores do vento

lembro-me de um anjo
flores secas
alguém que ao largo te acenou
sim ainda escuto o anjo
um anjo de louça que velou a madrugada
e de insuspeita glória te coroou

um texto para a minha mãe
para o pedro quando outubro dói

1.
nesse verão o dia era claro mesmo ao sol posto
e o mar alcançava-nos perto do peito
como uma pedra a abrir-se

repara:
ainda faltam quase todos na fotografia
(é um álbum novo quando agosto principia)
mas já seus olhos abrem
de mansinho
a madrugada de todas as promessas

ocupa, pois, sozinho o centro do retrato.

tão novos nós não supomos ainda
a erosão dos campos
nem o que faremos em cada encruzilhada
palavras dissolvidas, as mãos solventes.

por agora para ele conflui todo o olhar.

mais tarde colecionará bichos, piratas, cartomantes,
ondulações da voz, extra-terrestres, os dedos dos pinhais
e cães, claro, quando a noite chorar sobre a pele em brasa

germinará então a fotografia inteira
irá desdobra-la numa tarde enorme
e recolhê-la
como coisa sua que nos juntasse enfim
que nos fizesse casa
comum, por certo, para o mar que houvesse

já ele ali porém nesse verão distante
pequena evidência
que à luz nos devolve iluminados.
traz o dia pela trela
e o sol dobrava-se ao seu riso claro:
era uma vez um qué-qué ...

2.
tantos anos depois o qué-qué sem dar de si
um gato? uma praia? um fogo mudo?
um eco apenas desse mar varrido
quando a mão por fim se crispou voraz
e as minudências retomaram ferozes
seu caminho obscuro

3.
o que fecha a noite, sabes, quando sós por fim
não são epopeias nem tragédias, desígnios que houve
triunfos por haver,
sequer um grande amor dobrado sobre as pálpebras

o que nos roi é a mesa da cozinha,
a cadeira, o calendário
os ombros magoados contra a gaveta vazia
um pequeno cansaço matinal, repetido, insidioso
as horas calcificadas onde o vento apenas

o que nos roi são as ruas do costume
sua aspereza interior quando não chove
a contabilidade ávida e inútil onde as cores soçobram
as perdas se acumulam e delas próprias se perdem
recessivas

4.
envelhecemos de súbito tão larga a tua ausência

tua palavra rápida, genial, generosa
mas o qué-qué calado, não o encontro agora

tantos anos depois, sabes, o sol de luto
nossa idade inútil dobrada sobre o nada
o teu riso próximo a crescer em mim