O desenho da capa é do escultor José Rodrigues.
Apresentação por José Rui Teixeira.
teu corpo é um arco sobre o tempo
onde o fulgor do silêncio se demora
por isso
se o ofício é vão e imperfeita a idade
a palavra que me habita é onde eu moro
e essa habitação depura em mim
a explicação de toda a liberdade
que morada farei para aquele que se ausenta
que lume acenderei quando nem cinzas
como enunciarei o nome indisponível?
não te recolhe já a jubilação da noite
inaudível é o eco dos teus passos
nem o rumor de mil águas te nomeia
pois nenhum sortilégio te detém
do teu rosto apenas sei que me reergue
do teu nome tão só que o meu contém
quantas portas se abriram sem que esperássemos
mais que a errância fissurada do olhar
o amor breve
incerto litoral de onde fossemos?
ao arrepio de quanto a idade teme
e do que a prudência aconselha em voz corrida
não é adequado preparar o corpo para túmulo
por maior que seja a extensão da morte
dela ainda será pedra removida
pois teu corpo é meu corpo levantado
e nem lava avareza ou imundície
o reterá na orla do crepúsculo
Livraria Centésima Página
Braga, 1 de Março 2007.
Apresentação por
José Rui Teixeira