luís soares barbosa
embora seja noite
Publicado pela Cosmorama em Dezembro de 2006.

O desenho da capa é do escultor José Rodrigues.


Apresentação por José Rui Teixeira.
quinta estação

teu corpo é um arco sobre o tempo
onde o fulgor do silêncio se demora

por isso
se o ofício é vão e imperfeita a idade
a palavra que me habita é onde eu moro
e essa habitação depura em mim
a explicação de toda a liberdade

nona estação

que morada farei para aquele que se ausenta
que lume acenderei quando nem cinzas

como enunciarei o nome indisponível?


não te recolhe já a jubilação da noite
inaudível é o eco dos teus passos
nem o rumor de mil águas te nomeia
pois nenhum sortilégio te detém

do teu rosto apenas sei que me reergue
do teu nome tão só que o meu contém

décima terceira estação

quantas portas se abriram sem que esperássemos
mais que a errância fissurada do olhar
o amor breve
incerto litoral de onde fossemos?

ao arrepio de quanto a idade teme
e do que a prudência aconselha em voz corrida
não é adequado preparar o corpo para túmulo

por maior que seja a extensão da morte
dela ainda será pedra removida
pois teu corpo é meu corpo levantado
e nem lava avareza ou imundície

o reterá na orla do crepúsculo

Livraria Centésima Página
Braga, 1 de Março 2007.
Apresentação por José Rui Teixeira