RESÍDUOS COM MAIOR POTENCIAL DE RECICLAGEM

 

                A composição típica dos resíduos não é um dado estático pois ela tende a evoluir à medida que os padrões de consumo se alteram. Essa evolução não é, em geral, de modo a facilitar os procedimentos de recolha selectiva e a reciclagem, porque corresponde a uma maior complexidade dos produtos e a uma maior diversidade dos materiais empregues na sua manufactura.

              Um dos domínios em que estas tendências são mais visíveis é o do acondicionamento dos produtos.

              Sobretudo por motivos de "marketing", pois a embalagem não é só o meio de acondicionar os produtos, mas também é um dos meios de chamar a atenção para eles. O acondicionamento tem-se tornado cada vez mais sofisticado e recorrendo a uma cada vez maior diversidade de materiais.

              Assumindo um cenário típico como o referido, conclui-se que cerca de 80% dos resíduos produzidos têm um elevado potencial de reciclagem, e pelo menos esses, mereciam uma estratégia activa de recolha selectiva. Façamos então uma breve referência a cada um deles:

RESÍDUOS

Papel; Matérias Orgânicas; Vidro; Metais

        PAPEL

        O papel é um material de suporte da informação escrita que produz fortes impactos negativos sobretudo ao nível da produção.

        De facto, embora a matéria prima se possa considerar renovável - a madeira, proveniente das árvores - a sua produção conduz normalmente a extensas monoculturas de espécies exóticas - como o eucalipto em Portugal, e diversas resinosas na maior parte da Europa - que têm como consequência o desaparecimento da quase totalidade da fauna e da flora nativas. Este efeito está relacionado não apenas com as espécies utilizadas mas também com o regime de cultivo: plantações densas, revolução de curtas e lavagem de solos de montanha débeis.

        Igualmente significativa é a degradação da paisagem, pela via da uniformização, e a perda do seu carácter e da sua especificidade (biodiversidade).

        Ao nível da rejeição, o impacto do papel está relacionado sobretudo com o espaço ocupado, com o risco de incêndio, e com a possibilidade de libertação de substâncias tóxicas, entre as muitas que são usadas na sua manufactura e impressão.

        A reciclagem do papel é um procedimento que permite recuperar as fibras celulósicas do papel velho e incorporá-las na fabricação de novo papel. Não é um processo isento da produção de resíduos, mas a produção de pastas virgens também não o é, e assim sempre se minimizam os problemas relacionados com a produção de matéria prima e com a deposição do papel velho.

        Exatamente para minimizar o problema dos resíduos gerados na reciclagem, por vezes opta-se por não efectuar a operação de destintagem, isto é, a remoção das tintas do papel original, e que é uma das fontes de poluição. Desse modo, o papel reciclado resultante apresenta tonalidades de cinzento, a não ser que seja deliberadamente colorido. Este papel difere pois, no seu aspecto, do papel fabricado exclusivamente com fibras virgens branqueadas, e requer da parte do utilizador uma opção de preferência.

        No entanto, mais frequentemente, as fibras recicladas entram numa certa percentagem na fabricação de papel, sendo a parte restante assegurada por fibras virgens. Este papel pode diferir muito pouco do papel fabricado exclusivamente com fibras virgens.

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        MATÉRIAS ORGÂNICAS

        As matérias orgânicas são aquelas em que se baseia toda a actividade biológica e que resultam como sub-produto dessa actividade. São os restos de alimentos, mas também os dejectos e os objectos provenientes de seres vivos.

        A vida dispôe de mecanismos - os microorganismos - que asseguram a decomposição da matéria orgânica em constituintes que podem de novo ser assim assimilados pelos seres vivos.

        Esse processo pode ser ajudado pela criação de condições que facilitem a acelerem a transformação. São condições como a temperatura e a humidade, e a inclusão de certos materiais que funcionam como aceleradores do processo.

        A reciclagem de matéria orgânica tem o nome de compostagem e o resultado é uma substância que, por razões óbvias, pede ser usada como fertilizante.

        Existem actualmente algumas centrais de compostagem a funcionar em Portugal, mas como a separação dos resíduos é feita à posteriori, é impossível evitar a completa ausência de substâncias estanhas ou impróprias para compostagem, o que produz a desvalorização do produto final baseado na desconfiança quanto à sua qualidade.

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        VIDRO

        O vidro é um material baseado numa matéria prima abundante e bem dessiminada - a silica. No entanto, a sua manufactura é bastante consumidora de energia. Por outro lado, o vidro usado é um material inerte cujo principal inconveniente é o espaço que ocupa.

        Dado que a reciclagem do vidro é menos consumidora de energia qo que a fabricação de vidro novo, reside aí o seu principal benefício.

        A recolha selectiva de vidro é uma das que foi implementada em há mais tempo, com a dessiminação de vidrões por quase todas as vilas e cidades de Portugal. No entanto o seu sucesso não foi retumbante, e analisar os motivos desse resultado é útil para compreender as dificuldades mais básicas que se colocam a um sistema de recolha selectiva.

        Esse relativo insucesso manifesta-se no modesto índice de recolha de vidro, relativamente aquele que continua a ter como destino as lixeiras/aterros, índice esse que é ainda inferior a 50%. Outro motivo é a existência de inúmeros acessórios associados ao vidro - plásticos, papeis, etc. - e que encarecem e preparação do vidro (pois que é necessário removê-los à posteriori) e que eventualmente comprometem a qualidade do produto final.

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        METAIS

        Todos os metais utilizados pelo homem foram extraídos da terra onde existem sob a forma de compostos minerais.

        No entanto, embora a reservas sejam muito variáveis de metal para metal, para todos são finitas, e para alguns dos de maior utilização, como por exemplo o Cobre, são mesmo bastante escassas face ao consumo actual. Adicionalmente os processos para a obtenção do material na forma final são frequentemente muito exigentes em energia e geram grande quantidade de poluição (escórias, subprodutos da extracção...).

        Sobretudo por estes motivos, mas também porque os objectos metálicos rejeitados - os vulgares "monos"de que os mais importantes pelo seu impacto, são os automóveis velhos - constituem um importante factor de degradação da paisagem e ocupação de espaço. A reciclagem dos metais é uma tarefa da maior importância. E na verdade, a recuperação do ferro - vulgo "ferro velho" - é já uma actividade antiga, que deve ser incrementada.

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            EM SUMA:

        A reciclagem é, indiscutivelmente, a melhor solução para o problema que representa a maior parte dos nossos resíduos domésticos. Não é, contudo,uma "panaceia para todos os males". Também absorve energia e gera resíduos, excepto no caso da compostagem. Inevitavelmente, deixa de fora uma série de materiais não recicláveis cujo único destino possível é o aterro sanitário ou a incineração. Por isso deve ser acompanhada de outras medidas como a Reutilização e uma perspectiva crítica face ao modelo de consumo.

http://7mares.terravista.pt/quercus-av-rsu/

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